terça-feira, 2 de dezembro de 2008




Falaram sobre quase tudo. Falaram nela, nele, nos outros, nos próximos, nos mais afastados, nos que já não viam há muito e nos que nunca mais poderão vir a ver. Finalmente e depois de jantaram, começaram a falar neles. O assunto era o menos apetecido naquele momento para ele, mas para ela, era o momento de que há tanto tempo esperava. O momento certo havia chegado, não poderia deixar fugir a oportunidade. Dirigiu o seu olhar na direcção dele, começou por proferir algumas palavras que iam saindo, ao princípio meio confusas, mas depois foram tomando o seu equilíbrio natural, fazendo passar assim, toda a sua convulsão de sensações.
Arrastou a sua mão até à dele, apertou-a com um pouco de força e insistiu em perguntar-lhe porque lhe fez aquilo. Começou a chorar. Já sabia a resposta. Ele olhou-a nos olhos e disse-lhe que já lhe havia explicado, na altura não sabia muito bem a forma, mas acredita que a vida lhe tenha ensinado a viver com aquela realidade.
Ele viveu durante a sua infância numa pequena cidade do interior. Ratury, era uma cidade pequena em todos os aspectos. Desde cedo que ele sentira que não pertencera ali. Algo estava errado e ele sentia-o desde sempre. Os anos foram passando e ele foi crescendo. Cresceu rodeado de terra, e do ar. Cresceu rodeado da mediocridade e da ignorância, assistiu e foi vítima de maus tratos, machismo e outras coisas mais. Viveu assim, durante muito tempo. Joana era uma bela rapariga, uma das mais belas da pequena cidade. Com ela criou laços de ternura, amor e amizade. Joana ficou gravada na memória dele como sendo uma das poucas coisas boas que lhe haviam acontecido em Ratury. Aos 18, fugiu de casa. Tentou fugir de tudo e de todos, mas desta vez sem sucesso. Não foi muito mais longe do que a cidade mais próxima. A fome assolou-lhe a mente e deixou-o completamente vencido. A insegurança foi outra das causas. Nesse dia, em vez de uma conversa que poderia ter tido com os pais, esta foi substituída por uns açoites até perder os sentidos, falecido de fome e cansaço. Mais tarde, tentou o suicídio, atirando-se de uma ponte, a única da pequena cidade. Não era o suficientemente alta. A solução seria tentar desta vez, uma fuga. Para sempre.

1 comentário:

O Puto disse...

Valeu a pena a espera.