terça-feira, 26 de agosto de 2008



Ratury sempre foi um local verdejante, apesar de gélido. A casa onde morava tinha no lugar das portas umas cortinas que faziam a separação entre os pequenos compartimentos da casa. Ainda se lembra exactamente do cheiro a humidade que os cobertores desferiam e do barulho provocado pelo estilhaçar dos paus de madeira verde enquanto se transformavam em cinza na lareira. Uma lareira preta, mas sempre iluminada e quente. Os potes também pretos, ferviam água durante todo o dia, água que servia para a sopa e outra para os banhos. As sopas consistentes de feijão e farinha matavam a fome a qualquer um, mesmo àqueles que se haviam matado num dia árduo de trabalho a partir lenha, a arar terra ou simplesmente a brincar.
Mas tinha sido a vinha o seu destino. Desde pequeno que aprendera a embaraçar as pontas verdes e tenras no arame e formar talhões de vinha em autênticas sebes enoveladas. Com uma guita à volta da cintura, prendia um molho de junco cortado e demolhado em água quente previamente, que utilizava para prender ao arame os preciosos ramos que ostentavam os cachos. Mais tarde esse trabalho era repetido – os primeiros ramos haviam-se reproduzido e dado outros ramos. Mas o mais intrigante era a poda. Cerca de três meses após a vindima, a videira era transformada num pequeno tronco com duas hastes. Uma em cada direcção. Em cada uma delas cerca de dois brotos e se a videira fosse forte, três.
O percurso enlameado que fazia todos os dias para a escola transformava-se no local ideal para o divertimento.