sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O seu conhecimento musical fascinou-o desde cedo. Olhava-o com admiração. Era bom falante, transmitindo as suas ideias e conhecimentos sempre de uma forma subtil e encantadora. O som da sua voz foi acompanhando-o durante o dia, nas tardes, e à noite enquanto dormia. Pensava como seria convidá-lo para um café. Pensava como convidá-lo para um jantar feito em sua casa. Faria um prato bem especial, simples. Bebiam cerveja ou vinho, se gostasse. Compraria uma sobremesa no supermercado e fumariam cigarros a noite toda, enquanto falavam, enquanto descobriam a colecção musical que dispunha numas prateleiras na sala.
Pensou seriamente nisso durante muito tempo. Sonhou com o jantar durante grande parte da sua vida.
Pensava qual seria a reacção dele quando o convidasse para um jantar, como se iria explicar? Poderia dizer-lhe que gostaria de lhe mostrar a colecção, poderia até dizer que era um excelente cozinheiro e que os seus pratos eram uma obra de arte. Mas ele queria convidá-lo porque estava claramente apaixonado pelos seus encantos, pela sua pessoa. Ele iria perceber, iria fugir, iria rir-se da sua cara correndo o risco de nunca mais o ver. De o perder.
Chorou muitas noites seguidas. Amava-o mais do que tudo. Via em David aquilo que nunca encontrara em Joana, aquilo que nunca iria encontrar em mulher alguma. A Paixão. Amar David era como gritar sem que ninguém o ouvisse. Amar o David era o padecer da sua doença, era o fim de tudo. Este era o seu castigo que havia de carregar sem perceber qual a razão.
A vida continuou e a paixão pelo David também. As visitas eram agora mais frequentes, David ia à discoteca de manhã e à tarde. Ia vê-lo. Ia admirá-lo. Ele não sabia, não percebia que David também o amava.