sexta-feira, 12 de setembro de 2008


Depois de ter saído do café, foi andando sem rumo. Aproveitou para reflectir e descobrir a cidade que lhe abria agora os braços e lhe dava o ar da sua graça. Um ar frio, um ar que o convidava ao aconchego da sua casa e o obrigava a considerar a existência de um cobertor na sua cama para se manter mais quente.
A chuva tinha parado. Mesmo assim, os telhados ainda escorriam o excesso de água para os passeios, depois, umas pequenas gotas até ficarem completamente secos. Tirou a gabardina quando entrara para uma discoteca. Olhou para uns quantos cds e adquiriu uns 6 ou7.
A cidade parecia-lhe simpática. Faltava agora a companhia de alguém.
Mais à frente uma livraria. Depois um outro café e um outro. Uma igreja, um parque de merendas e acolá, uma avenida, que descia até ao rio. Desceu, e caminhou pela margem até sua casa.

O homem alto e arranjado perguntava-lhe como queria o corte de cabelo, e se a barba também era para desfazer. Acenou afirmativamente e pediu um corte simples mas curto. O cabeleireiro ficava mesmo ali, ao pé de sua casa. O corte era lento mas eficaz, enquanto isso, olhava-se no espelho vendo a sua imagem ser modificada e depois rectificada em pormenor pelo profissional. Uma ligeira massagem com um pouco de creme after shave e estava como novo. Sentia-se fresco e sem dúvida muito leve. Mas agora, a sua imagem parecia outra. O homem que conhecera há bem pouco atrás estava mais novo e limpo.
Deixou os cds em cima da mesa, dirigiu-se à cozinha e trocou um copo de uísque por um de sumo de laranja bem fresco.
Sentou-se numa cadeira e colocou um dos cds que havia comprado, tinha sido um sucesso no ano anterior, mas que lhe escapara devido à sua decadência.
Leu novamente as cartas que recebera e confirmou a morada. Seria o momento certo para falar com alguém que conhecera há muito tempo? Ou seria uma má opção ir ao encontro de Juliana?
Abriu a gaveta onde colocara as cartas recebidas e depois de ter confirmado a morada saiu, saiu decidido a ir ter com Juliana.
A morada dela era bem perto da sua. Caminhou a pé e num instante estava ao pé da casa procurada.
Respirou bem fundo, fixou a campainha e apertou com toda a sua força para que não pudesse voltar atrás.

Voltar atrás e correr até sua casa não fazia sentido, aguardou a resposta excitado, impaciente. A resposta não demorou a ser dada. Era ela, a Juliana!
Foi convidado a entrar, um beijo e imediatamente um abraço que levou algum tempo a ser desfeito. Poucas foram as palavras proferidas pelos dois.
Como era incómodo estar ali. Sentia-se completamente nu. Sentia-se demasiado envergonhado.

Ela contara-lhe muitas coisas sobre a sua vida. Os tempos fantásticos que passou enquanto emigrada em Londres, as aventuras, os namorados e as desilusões que foi encontrando pelo caminho.
Ele, sobre os seus receios, sobre também a sua perda e a sua derrota perante a vida, falhou-lhe nas descobertas, nas novas pessoas e nos novos mundos. Falou-lhe nas sensações e emoções que esta vida lhe havia proporcionado.