quinta-feira, 19 de março de 2009

A cidade parecia agora maior. Tinha muita vontade de a conhecer verdadeiramente, mas tinha também receio de se perder na sua imensidão.
Os fins-de-semana eram agora desocupados e perder-se pela cidade era talvez uma aventura fantástica, onde tudo poderia acontecer. Aproveitava para a conhecer melhor. Para se perder. Para jantar num restaurante, e acabar a noite numa discoteca.
Às vezes, jantava em casa e procurava outros locais para dançar e ouvir música. Outras vezes, ia aos mesmos sítios quando gostava daquilo que ouvira da ultima vez que lá esteve. A música tinha sempre prioridade aquando da escolha de um local. Se não gostasse não regressava. Se gostasse, não queria de lá sair, e voltaria as vezes necessárias até conhecer outro lugar.
A sensação de estar sozinho no mundo era estranhamente agradável. Sentia que poderia ser aquilo que sempre desejou: livre. Mas estar sozinho também trazia alguma angústia, solidão e isolamento do mundo.

Sabia que era diferente de todos. Sentia-se atraído por pessoas do mesmo sexo. E isso não era muito normal até se aperceber que haviam pessoas que passeavam na rua, iam aos mesmos locais dançar e até compravam discos na discoteca onde trabalhava. Comiam nos mesmos restaurantes e passeavam nas ruas, tal como as outras pessoas. Ser-se estranhamente diferente não era assim tão misterioso quanto isso. Mas ainda o repugnava alguns comportamentos. A uns, identificava-os pelo andar, pelos gestos meio efeminados, a outros, porque davam as mãos aos namorados, mas o mais intrigante eram aqueles que apesar de não emanarem qualquer sinal, ele sentia. Ele sentia na pele, no estômago, no olhar. Sentia que a outra pessoa que estava do outro lado, fosse onde fosse, era como ele, esquisito. Diferente. Anormal.
Escondia todos os dias isso, negando essa mesma realidade, não se aceitava assim, e sofria constante e estupidamente, sozinho.